Estudo aponta Delmiro Gouveia como 6ª cidade mais vulnerável à covid no país

Por TNH1 | 7 de julho de 2020 às 6:00




Crédito: Ronaldo Lima

Para o combate e prevenção a qualquer doença informação e dados são sempre aliados importantes. Muito mais do que apontar desempenhos ou “culpados”, os estudos sobre o novo coronavírus tentam lançar luz a cenários e condutas possam influenciar no ritmo da contaminação, número de óbitos ou mesmo de capacidade de manter índices menores da covid-19.

Nesta segunda-feira, 06, o portal UOL traz matéria com dois importantes estudos no campo. E um deles chama atenção aos alagoanos, pois coloca Delmiro Gouveia, no Sertão do estado, entre as 10 com maior índice de vulnerabilidade à covid-19.

O estudo Índice de Vulnerabilidade dos Municípios (IVM), elaborado pelo Instituto Votorantim para nortear as ações e doações do grupo industrial, indica o grau de vulnerabilidade de cada município brasileiro em relação aos impactos provocados pela pandemia. Ele permite a realização de buscas por regiões geográficas, pilares temáticos, níveis de criticidade e o cruzamento com o número de casos confirmados e óbitos por município, que são atualizados diariamente.

Ou seja, o IVM não toma apenas como base o número de casos ou óbitos, por exemplo, mas a estrutura das cidades (distância dos serviços de saúde, acesso à água, crucial para higienização, entre outros, e como isso facilita ou dificulta o combate à covid-19.

No estudo, Delmiro Gouveia, de 52 mil habitantes, figura em 6º lugar, numa lista encabeçada pela cidade de Mojuí dos Campos, cidade do Estado do Pará,  ainda menor que Delmiro, com 32 mil habitantes. Veja a lista completa:

  1. Mojuí dos Campos (PA)
  2. Wanderley (BA)
  3. Ibirataia (BA)
  4. Sítio do Quinto (BA)
  5. Jussiape (BA)
  6. Delmiro Gouveia (AL) 
  7. Ubaitaba (BA)
  8. São Francisco (MG)
  9. São Raimundo Nonato (PI)
  10. Faro (PA)

Cidades pequenas lideram IVM

O diretor geral do Instituto Votorantim, Rafael Gioielli, explica a liderança das cidades pequenas como Delmiro Gouveia nas principais posições do ranking.

“A distância dos serviços de saúde e das informações poderiam afetar quem mora nos municípios menores, rurais. É só lembrar que muitas pessoas no sertão nordestino não tem acesso a água nem a saneamento básico. Então, como elas podem lavar as mãos, que é a forma básica de prevenção ao vírus?”, argumenta.

o IVM calculou a população vulnerável, a economia local, a estrutura e organização do sistema de saúde (com ênfase nos leitos, equipamentos e população coberta pelo SUS) e capacidade fiscal da administração municipal. “O indicador sintético é uma ferramenta a mais para decidir, priorizar, agir e depois avaliar. Nessa hora em que todo mundo está precisando, dá ideia do que é mais necessário fazer”, opina Gioielli.

O Instituto Votorantim já está planejando novos rankings nacionais para ajudar no cenário pós-pandemia. “Vamos fazer uma mapa para ajudar a educação na retomada das aulas. E estamos elaborando outro índice para inclusão produtiva, afinal, muitas cadeias de produção foram impactadas, muitos empregos perdidos, como, por exemplo, no turismo”, relata Gioielli.

Números locais

A presença da cidade alagoana no IVM inspira cuidados, assim como nos municípios vizinhos, considerando a facilidade de transmissão do vírus e o número parecido de casos da doença entre a grande maioria dos municípios alagoanos, como mostram os boletins da Secretaria de Estado da Saúde (Sesau).

Pelo boletim divulgado pela Sesau nesse domingo, 05, Delmiro aparece na 27ª posição no número de casos confirmados de covid-19; e 31º no número de óbitos.

Prefeitura promete avaliar estudo para aprimorar ações

A Prefeitura de Delmiro Gouveia emitiu nota onde afirma que levará o estudo do Grupo Votorantim ao Conselho Municipal de Crise, que reúne as ações de combate à covid-19, para usá-lo no aprimoramento das ações durante a pandemia.

“A Prefeitura de Delmiro Gouveia, através desta, apresenta as ações que estão sendo realizadas no município para o controle e cuidado da população no combate ao COVID-19 e que, ao mesmo tempo, irá levar o estudo apresentado pelo Instituto Votorantim ao Conselho Municipal de Crise, para que haja um aprimoramento neste combate”, diz o texto.

A gestão do municipio destacou ainda uma série de ações de combate à covid-19 e seus respectivos resultados.

‘Em 22 de março deste ano, foram iniciadas as ações de combate ao COVID-19 pela gestão municipal de Delmiro Gouveia. Uma das primeiras ações implementadas e que se tornou referência para diversos municípios, foi a instalação de barreiras sanitárias e o fechamento de estradas vicinais da cidade. Paralelo à isso, outras ações contribuíram para que a transmissão comunitária fosse retardada no município. Distribuição de máscaras e kits de higiene, instalação de unidades de higienização para as mãos em locais de grande circulação, fiscalizações e trabalhos educativos foram realizados com as diversas secretarias da Prefeitura de Delmiro Gouveia. Estas ações, permitiram que a transmissão comunitária em Delmiro fosse identificada apenas no final do mês de maio e serviram para proteger o sistema de saúde local. A UPA de Delmiro Gouveia, unidade de referência para o Alto Sertão de Alagoas, possui 8 leitos sendo 2 de UTI intermediária, para que haja a transferência dos pacientes para os hospitais de referência. O Governo de Alagoas está finalizando a implantação de 16 leitos clínicos no Hospital Regional Antenor Serpa. 

Os resultados positivos das ações refletem na taxa de incidência para COVID-19. Em comparação com os municípios alagoanos com população acima de 40 mil habitantes, Delmiro Gouveia possui a menor taxa, 550 para grupos de 100.000 habitantes. A média do estado de Alagoas, divulgada pela SESAU no último domingo,05 de julho, apresenta uma taxa de incidência de 1.212 para grupos de 100.000 habitantes”, diz a nota, que ressalta também o índice de incidência de casos, onde o municipio figura em 15º lugar.

Plano de contingência – A nota da prefeitura destaca ainda que  com o novo plano de contingência implantado pela Secretaria Municipal de Saúde, mais testes estão sendo realizados, possibilitando o rastreio e ações efetivas de controle e monitoramento de pessoas contaminadas.

“O Centro de Triagem, instalado no Memorial Delmiro Gouveia, já realizou cerca de 300 testes. As ações de monitoramento, rastreio e cuidado também estão surtindo eficiência no tratamento das pessoas contaminadas. A distribuição de kits de medicamentos e o acompanhamento da equipe médica, segundo o boletim emitido no último sábado 04/07, apresenta 129 casos ativos com apenas 02 pacientes contaminados internados, sendo estes em situação de saúde regular. Em comparação com os números do Estado de Alagoas, que apresentou no último domingo 7.426 casos ativos, 638 estavam sendo acompanhados em uma unidade hospitalar, uma taxa de 8,5% onde Delmiro Gouveia aparece com apenas 1,6%. Do total de casos confirmados 146 já estão recuperados”, desta a gestão.

A prefeitura também divulgou a instalação de dois módulos com 8 lavatórios cada um, na área da Feira Livre e do Mercado Público da cidade.


Locais de grande circulação recebem desinfecção em Delmiro (Foto: Ascom Prefeitura)

Em outro índice, cidades de regiões metropolitanas lideram ranking

Diferentemente do IVM, o  Índice de Vulnerabilidade ao Alastramento do Coronavírus, organizado pela Fundação Perseu Abramo, apontou cinco municípios de regiões metropolitanas como os mais ameaçados pela pandemia: São João de Meriti (RJ), Taboão da Serra (SP), Carapicuíba (SP), Nilópolis (RJ) e Diadema (SP).

Nesse levantamento, a densidade demográfica e a presença de favelas foram preponderantes para a seleção dessas localidades.

“Nosso estudo tem informações separadas por município e por vulnerabilidade para os governos pensarem em ações específicas para diminuir o risco de pessoas que precisam sair às ruas. Nos bolsões de informalidade, por exemplo, pode haver uma renda cidadã local, complementar ao dinheiro enviado pelo governo federal, para que pessoa não vá trabalhar nesses dias. Ou fazer testes de contágio em bairros mais vulneráveis para que essa testagem seja mais eficiente”, afirma Ronnie Silva, geógrafo responsável pelo IVC.

Gioielli, do Instituto Votorantim, destaca a complexidade dos cenários, que permitem diferentes conclusões. “São assuntos complexos e múltiplas dimensões que não cabem em um só número. Nesses indicadores sintéticos há sempre o risco de simplificação. Mas se houver inteligência na montagem do índice, ele ajuda muito para a análise, o planejamento e a ação”, ressalta.




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