Garotos de Inhapi são ‘enganados’ por candidato a deputado estadual, diz MP

Por Redação | 1 de outubro de 2014 às 19:46

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Reportagem do portal Cada Minuto trouxe a tona um problema, que para quem é do meio futebolístico parece ser muito comum. A denúncia é contra um candidato a deputado estadual por Alagoas e ten como vítimas garotos e agentes públicos da cidade de Inhapi-AL.

 

Entenda

 

Segundo o portal, o Ministério Público Estadual do Rio de Janeiro (MPE/RJ) ajuizou, no início deste mês, uma ação civil pública para investigar Alan Nunes Silva, candidato a deputado estadual em Alagoas pelo Partido Renovador Trabalhista Brasileiro (PRTB). Ele é acusado de levar ao Estado carioca cerca de 40 jovens, sendo 30 menores de idade, de municípios como Inhapi, Boca da Mata, Penedo e São Sebastião, sob a promessa de que participariam de testes para jogar futebol nos clubes de base do Vasco e do Fluminense, no Rio de Janeiro, e de que seriam encaminhados à Bélgica em novembro. No entanto, Alan foi denunciado por supostamente estar “explorando” e submetendo os meninos a condições desumanas, sem a garantia de alimentação e dormitórios dignos.

 

A Secretaria de Estado de Direitos Humanos do Rio de Janeiro descobriu o caso após receber uma denúncia anônima. O órgão constatou que os meninos estão vivendo em uma casa alugada na Baixada Fluminense, cujas condições violam artigos previstos pelo Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). Os 40 alagoanos viajaram sem autorização formal dos pais para estarem no Rio e dividiam um único banheiro, sendo os responsáveis por limpar a casa e lavar as roupas.

 

Responsável pela ação civil pública que investiga o acusado, a promotora Soraia Salles afirmou que foram enviadas cópias do processo ao MP Federal e ao MP do Trabalho. O objetivo, segundo ela, é que os órgãos ministeriais “analisem se ocorreu tráfico de pessoas e trabalho infantil, respectivamente”. “Como há viagem marcada para a Bélgica se eles sequer têm passaporte?”, questionou a promotora.

 

O CadaMinuto conversou com Márcio Barbosa, de Inhapi, que foi um dos articuladores da viagem dos jovens ao Rio de Janeiro. À reportagem, Barbosa afirmou que, no caso dos garotos da cidade, a negociação foi feita informalmente, “de boca”, entre ele, Alan Silva e o ex-secretário de Cultura e Esportes de Inhapi, Marco Gomes. O acusado se apresentou a Márcio como diretor do Projeto Gool de Placa, de sua autoria e criado em 2012 para intermediar testes em clubes cariocas de futebol. Segundo a página do candidato no Facebook, cerca de 500 jovens já foram levados ao Rio de Janeiro pela mesma iniciativa.

 

“Ele [Alan] chegou até mim, propôs uma reunião e nos apresentou o Projeto Gool de Placa. Na época, vimos [Márcio e Marco] que poderia ser uma boa oportunidade para os garotos, já que estariam em clubes renomados e seriam recompensados de forma que ajudariam as suas famílias. Meu irmão é um dos jovens que está lá no Rio e sempre reclama do local para dormir e da alimentação. Disse que não aguenta mais comer somente pão com salsicha todos os dias. Eu nunca imaginei que chegaria a esta situação e não sabia que o Alan estava sendo investigado. Estou bastante preocupado”, contou Márcio, que é funcionário da Secretaria de Cultura e Esportes de Inhapi.

 

Ele afirmou que mantém contato com o irmão, Josemario Barbosa, 19, que sempre reclama da situação. Segundo Barbosa, o jovem deve voltar a Alagoas nos próximos dias, junto aos demais jovens. O retorno está sendo pago pela Prefeitura de Guapimirim, cidade carioca na qual estão alojados, e pelo governo do Estado, que são réus na ação ajuizada pelo MP.

 

Os garotos estão sob os cuidados de uma funcionária de Alan e pela mãe de um deles. Estavam sendo obrigados a limpar o local com base em uma escala de faxina e, caso se recusassem a trabalhar, eram ameaçados de voltar a Alagoas antes do período previsto. Agora, a casa está sendo vigiada por um carro da Polícia Militar do Rio de Janeiro e todos estão sendo assistidos por psicólogos e assistentes sociais; alguns choram todos os dias. Na casa, que não tem TV e só há disponível colchonetes de fina espessura nos dormitórios, eles dizem que a proprietária também impede o uso do campo de futebol, para que o gramado não seja gasto. A única bola que havia no local foi levada com Alan.

 

A viagem

 

Os 40 jovens viajaram ao Rio no mês de julho e passariam três meses, onde seriam submetidos a testes para avaliar quem seria contratado pelos clubes e quem viajaria à Bélgica. Após a primeira fase da seleção, os garotos voltaram para casa e retornaram à cidade no início do mês de setembro, quando Alan foi denunciado. Segundo contou Márcio Barbosa, cada jovem pagou R$ 600, cujo valor cobrado pelo acusado seria para bancar estadia, alimentação e transporte.

 

“Eu achei uma loucura o valor. Como ele poderia sustentar os jovens por três meses com R$ 600? Na primeira vez que os garotos foram, eu também viajei e passei dois dias no Rio de Janeiro. O Alan me mostrou a chácara onde eles ficariam alojados, um local muito bom e bem estruturado”, disse Márcio, acrescentando que a maioria dos pais só autorizaram os jovens viajarem porque seria em sua companhia. “Muitos deixaram, mas outros não. Levei os que os pais autorizaram”, completou.

 

Márcio acrescentou que há mais de duas semanas tenta falar com Alan Nunes, mas as ligações não são atendidas, o acusado não tem comparecido ao local onde estão alojados os garotos e também não dá retorno às mensagens deixadas em seu perfil no Facebook.

 

As Promessas

 

Os garotos foram ao Rio de Janeiro com a promessa de testes no Vasco e no Fluminense, no entanto os clubes negaram conhecer Alan. O acusado também havia prometido oito contratos em um time na Bélgica, cuja suposta viagem estaria marcada para o mês de novembro. Ao MPE, durante depoimento, Alan não soube informar qual seria o clube ou contrato pelo qual os jovens seriam levados ao país.

 

O acusado não sabia, sequer, que a moeda belga é o euro ou que uma das línguas faladas é o francês, além de não especificar o time aos garotos sob a justificativa de que seria “um nome complicado”.

 

Entre as violações ao Estatuto da Criança e do Adolescente, o Ministério Público identificou que os jovens foram privados da educação, visto que somente cinco deles estão matriculados em uma escola da rede pública de ensino do Rio; estão sem atendimento médico adequado – um deles relatou dificuldade em receber assistência quando precisou; e também foram privados da convivência familiar, já que estão há quase dois meses na cidade.

 

Acusado nega exploração

 

Márcio Barbosa afirmou à reportagem do CadaMinuto que não entende qual benefício Alan teria com a levada dos garoto ao Rio de Janeiro. “Achei estranho principalmente pelo valor. Foram 40 jovens e cada um pagou R$ 600 para passar três meses, se alimentarem e custearem a alimentação. Ao todo, o valor dá R$ 24 mil. Não sei se é golpe. O valor não é tão alto”, o irmão de Josemario.

 

Alan tem se pronunciado por meio de postagens no Facebook desde que foi denunciado e interrogado pelo MP. Em textos, ele nega “exploração” e disse que as denúncias foram plantadas por pessoas de “mau-caráter”, cujo objetivo seria manchar a sua candidatura a deputado estadual por Alagoas. Alan afirmou, ainda, que está providenciando a documentação dos jovens para apresentar ao MP e pediu apoio dos “pais dos atletas, de secretários de esporte e de prefeitos”.

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