Infectologista explica relação da covid-19 em pacientes soropositivos

Por Agência Alagoas | 5 de junho de 2020 às 9:00




Foto: Carla Cleto

Desde o começo da pandemia do novo coronavírus no Brasil, o Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV/Aids (Unaids) lançou mão de uma cartilha com medidas e recomendações de prevenção para este público, a fim de minimizar os impactos nas pessoas soropositivas durante o período da quarentena. Contudo, sempre pairam algumas perguntas na cabeça. Como o vírus HIV deprime o sistema imunológico, esses pacientes fariam parte do público mais vulnerável à Covid-19? A infectologista e gerente médica do Hospital da Mulher Dr.ª Nise da Silveira, Sarah Dominique Dellabianca, explica sobre a situação desses pacientes.

Segundo ela, os especialistas ainda estão esperando por estudos maiores para entender se pacientes com HIV ou Aids podem vir a ser considerados um grupo de risco para o novo coronavírus. “Ainda não sabemos se a mortalidade e o acometimento da doença vão ser semelhantes à população que não tem o HIV. Porque, obviamente, isso vai depender do estado de evolução em que o HIV vai estar no organismo do paciente acometido pela Covid-19. Basicamente são duas coisas: o vírus pode estar muito avançado ou controlado no corpo desse paciente, assim como o remédio que ele está tomando ou que já experimentou. Isso vai fazer toda a diferença no adoecimento dele pela Covid-19 daqui para frente. Querendo ou não, o grande problema do HIV é que ele atrapalha o sistema imune e você pode morrer de qualquer infecção. No entanto, se você se cuidar, é possível viver anos. Falo isso com base na minha experiência de 18 anos em atendimentos”, explicou.

Ela enfatizou que para aqueles pacientes que fazem o tratamento de maneira adequada e contínua, possuindo sua carga viral indetectável, ou seja, abaixo de 40 cópias, o sistema imunológico vai se comportar muito semelhante à população em geral. “Dessa forma, a pessoa pode apresentar Covid sob diversas formas de manifestações, com espectro de gravidade ou casos mais leves”, destacou.

Já para os que não fazem tratamento com antirretroviral, possuindo carga viral alta e os linfócitos T-CD4 (células muito importantes para defender nosso organismo das doenças) abaixo de 350 cópias, sobretudo, aqueles com menos de 50 cópias, podem, sim, manifestar uma doença mais grave, como acontece com os pacientes soropositivos que são infectados pela Influenza, de acordo com Sarah Dominique.

“O paciente soropositivo que se recusa a fazer o tratamento contínuo, por meio dos antirretrovirais, ele não consegue assegurar o nível adequado de CD4 e manter sua carga viral suprimida. Logo, o risco de ele contrair uma Influenza, por exemplo, e a situação dele agravar, é muito alta. Por isso, peço que esses pacientes não suspendam o tratamento. Mantenham as orientações médicas e lembrem-se de higienizar as mãos, usar máscaras em locais públicos e, se possível, permanecer em casa”, recomendou.

Como até o momento não há dados que comprovem que essa população deve ser considerada de risco, a gerente médica do Hospital da Mulher destaca que outros fatores devem ser levados em conta.

“Isso porque, ainda existem outras comorbidades, a exemplo da diabetes, hipertensão, obesidade, doença renal crônica, entre outras. O paciente soropositivo precisa colocar em mente que cada caso é um caso. Tudo precisa ser individualizado. O HIV é um dado a mais no que diz respeito ao fator de risco. Se a pessoa convive há muitos anos com o HIV, é muito difícil que ela não tenha desenvolvido algum tipo de comorbidade associada, tanto pela progressão da Aids, quanto pelos próprios efeitos adversos da droga. Porque o tratamento de HIV não é isento de problemas. Antigamente, os remédios deixavam os pacientes com necrose do fêmur, pancreatite, hepatite e com perda de gordura no corpo e na face. Hoje não é mais assim. Os remédios contra o HIV aumentam a sobrevida e melhoram a qualidade de vida de pacientes soropositivos”, reforçou.

Atenção! – No caso de pessoas que não têm o vírus HIV e se submeteram a relações sexuais desprotegidas ou drogas intravenosas durante o período de isolamento social, Sarah Dominique recomenda que elas procurem um serviço de saúde mais próximo, a fim de realizarem o teste rápido.

“O risco de você ter uma superinfecção é enorme. Além do HIV, que você pode ter contraído (e só vai desenvolver daqui a 15 dias ou um mês), seja pelo contágio da relação sexual ou de droga intravenosa, você também pode ter sido contaminado com o Sars-CoV-2, causador da atual pandemia de Covid-19. O risco de essa pessoa desenvolver um quadro grave do coronavírus é alto, visto que ela vai estar com o sistema imunológico extremamente fragilizado, voltado não só para a infecção do HIV, como também de desenvolver a síndrome respiratória aguda grave, dentre outras doenças”, concluiu.




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