Por Redação | 20 de setembro de 2021 às 7:00
A cada dez mulheres que trabalham na segurança pública de Alagoas, nove relataram sofrer abordagem de cunho sexual por superior hierárquico e sete já sofreram algum tipo de provocação sexual inoportuna no ambiente de trabalho. Esse dado alarmante foi o resultado de uma pesquisa-ação, realizada pelo grupo de pesquisa Carmim Feminismo Jurídico, da Faculdade de Direito de Alagoas (FDA) da Ufal, em parceria com o Ministério Público Estadual (MPE-AL). Durante a pesquisa foram entrevistadas mulheres que trabalham nas polícias Militar, Civil e Penal, Corpo de Bombeiros e Perícia Oficial.
Uma série de danos podem ser causados a quem é vítima de assédio. Por isso, Ufal e MPE se uniram para promover a campanha Mulheres em segurança: assédio não. A ideia é mostrar, nas redes sociais, os dados obtidos por esse estudo, com o objetivo de combater os assédios moral e sexual praticados dentro dos órgãos que compõem a Segurança Pública no Estado.
De acordo com a professora Elaine Pimentel, diretora da FDA e coordenadora do grupo Carmim, a parceria tem proporcionado a produção de conhecimento em torno do tema e importante campanha publicitária de enfrentamento dessa grave e silenciosa forma de violência contra mulheres. “A Universidade cumpre seu papel social de ultrapassar seus muros para intervir, com a produção de conhecimento científico, com a transformação social. Nosso objetivo é buscar meios de enfrentamento ao assédio moral e sexual nas instituições de segurança pública de Alagoas”, afirmou.
Segundo a promotora de Justiça Karla Padilha, da Promotoria do Controle Externo da Atividade Policial, a campanha é pautada na cientificidade, daí a importância da parceria com a Universidade. “Num primeiro momento, nós aferimos a estatística em relação aos episódios de assédio que ocorrem nas instituições de Segurança do Estado. O que vimos é que há uma subnotificação desses casos, pois há poucos registros, mas, na prática, as mulheres entrevistadas afirmaram que é muito comum serem abordadas com uma conotação sexual ou de assédio moral dentro do seu ambiente de trabalho, com incidência ainda maior quando há hierarquia e nas corporações militares”, explicou.
E complementa: “No momento estamos divulgando os dados da pesquisa e logo teremos registros com falas das entrevistadas, para darmos a elas vez e voz. Queremos encorajar essas mulheres a buscarem o Ministério Público e a Corregedoria e, com isso, termos uma apuração adequada desses fatos que tanto incomodam e que comprometem a realização de suas atividades na segurança pública”.
A promotora explica ainda que, além das vítimas, quem sofre com essa situação é a própria sociedade, que é a destinatária do trabalho dessas mulheres. “Muitas delas relatam episódios de sofrimento emocional, depressão, tentativa de suicídio, desestímulo com o trabalho, pois se sentem coagidas a não denunciar”, revelou.
A última etapa do projeto virá com diversas propostas para modificar esse quadro, como a inserção de módulos sobre a temática nos cursos de formação, a criação de canais para que essas mulheres sejam ouvidas por outras mulheres e, o mais importante, sugerindo medidas para que se torne mais célere o processo de apuração em relação a esses ilícitos.
Fonte: Ascom