Por Redação com CNN Brasil | 4 de maio de 2021 às 14:00
A Câmara dos Deputados pode votar nesta terça-feira (4) um projeto de lei que deve revogar a Lei de Segurança Nacional (LSN) e acrescentar ao Código Penal uma nova Lei em Defesa do Estado Democrático de Direito, como vem sendo chamada por deputados simpáticos à iniciativa.
O novo projeto tem como base uma proposta feita em 2002 pelo então ministro da Justiça do governo Fernando Henrique Cardoso (PSDB) Miguel Reale Jr. e tipifica crimes como atentado à soberania nacional, traição, espionagem, insurreição e golpe de estado.
Segundo a relatora do projeto, Margarete Coelho (PP-PI), a nova regra em defesa da democracia é necessária para, entre outras coisas, acabar de vez com a LSN e com o que classifica como a “doutrina de segurança nacional”, concebida “em um período de Guerra Fria que via nacionais como inimigos da pátria, que submetia civis à jurisdição militar” e que, por isso, não guardaria nenhum vínculo com a Constituição de 1988.
Promulgada em 1983 pelo último presidente do regime militar, João Figueiredo, a Lei de Segurança Nacional não só continua válida como recentemente também passou a embasar processos rumorosos.
Partem da LSN tanto inquéritos abertos pelo Supremo Tribunal Federal (STF) para investigar notícias falsas e ataques às instituições democráticas — o que atingiu parlamentares aliados do presidente Jair Bolsonaro (sem partido)–, como ainda a intimação para que o youtuber Felipe Neto prestasse depoimento à polícia por ter chamado Bolsonaro de “genocida”.
O reflorescimento da LSN no noticiário político (e policial) foi algo “que não se poderia prever”, diz Margarete Coelho, e acabou evidenciando a falta de afinidade entre o texto constitucional vigente e a legislação nascida nos estertores da ditadura.
“É uma lei que passou muito tempo no fundo de uma gaveta, mas, de repente, veio com força total”.
De acordo com a deputada, a Lei em Defesa do Estado Democrático de Direito, que se propõe substituta da LSN, difere pouco do projeto original, de 2002. A maior diferença é a supressão do trecho que trata de terrorismo, matéria que já está abarcada na legislação atual, defende a parlamentar.
Coelho afirma que, com a nova lei, “será proibido proibir” qualquer tipo de manifestação democrática e “não haverá crime de opinião”. “É uma lei que defende a soberania, o território nacional, a autonomia da nossa pátria diante de outras, que defende o processo democrático de escolha dos representantes”, explica.
Para o jurista Lenio Streck, professor de Direito Constitucional da Unisinos, a nova lei “garante a livre manifestação de pessoas para protestarem pacificamente” e estabelece punição para quem tentar impedir esse tipo de protesto. Ele também destaca como ponto positivo a previsão de se criminalizar quem “constituir grupo ou associação para pregar discriminação e preconceito racial”.
“Importante é a nova lei se fixar naquilo que representa o conceito de Estado Democrático de Direito. Atentar contra ele é algo que deve ser combatido“, pontua o jurista.
O presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), já defendeu publicamente a substituição da Lei de Segurança Nacional pelo projeto relatado por Margarete Coelho, e afirmou que a matéria deverá ser votada pela Câmara nesta terça-feira. À CNN, a deputada disse há também a possibilidade de o texto acabar sendo votado na quarta-feira (5), a depender da pauta.
Para ser aprovada, a nova legislação precisa ser aprovada por maioria simples tanto na Câmara quanto no Senado Federal. Se passar pelas duas casas do Congresso, seguirá para sanção do presidente Jair Bolsonaro.