
Por Francisco Nery Júnior
De pé, juntos na varanda, descortinávamos, Ângela e eu, a Colina do Bomfim. Um barulho estrondoso sobre as nossa cabeças nos chamou a atenção; se impôs, melhor dizendo. Eram dois helicópteros possantes. “Deve ser Lula chegando”, disse a mulher. Os dois passaram e aterrissaram na Vila Militar a dois ou rês tiros de pedra de onde estávamos. Minutos após, levantaram de novo e foram cumprir a sua missão.
Lula chegou para a inauguração da fábrica da BYD em Camaçari, o presidente chinês da montadora, órfão cedo na vida e criado pelo irmão, presente na cerimônia, e logo disparou que a sua “cabeça disputando com o estômago” reclamava (a mulher do prefeito de Maragogipe lhe havia prevenido que um quitute daqueles baianos lhe esperava na mesa).
Atrás do presidente e do chinês, ele, que não é bobo, o Bessias, Jorge Messias Advogado Geral da União, mastigava alguma coisa.
Lula iniciou a sua costumeira arenga louvando os 20 mil empregos esperados e citando que “mesmo para os chineses, Deus existe”. Em momento de felicidade rara, lembrou que 600 mil carros BYD poderão ser montados por ano para o mercado interno e para exportação. Louvou a competência da Petrobras e ressaltou as vantagens que o Brasil tem em relação à competição e ao desenvolvimento. Lula, por uma vez, ressaltou que a ênfase deve ser no desenvolvimento. Elevou o seu momento de iluminação ao ponto da honra ao mérito ao afirmar que “o povo brasileiro precisa é de chance” o que interpretamos que os incentivos do governo devem ser direcionados para os mais dotados de proatividade e vocação. Foi bastante prático e se despiu da ideologia declarando que “o que a gente quer é o Brasil importar inteligência”. À brisa do mar da Baía de Todos os Santos, Lula brilhou e escancarou para os renitentes os verdadeiros caminhos para o desenvolvimento que, por si só, eliminará todos, quase todos, os tipos de bolsas e esmolas.
Atrás do presidente, o Bessias mastigava…
Lula acordou um pouco do sonho e lembrou que havia ficado um ano e meio desempregado ressaltando que “o trabalho é o trabalho. O trabalhador precisa de dinheiro para levar para o restaurante e comprar um presentinho para o seu afilhado; poder comprar um móvel novo”.
Lula discursava e o Bessias mastigava. Sacou uma garrafa de água mineral da alforja e derramou, cabeça para cima, alguns goles garganta abaixo…
A “Biaidiu”, martelava Lula, “vamos ensinar ao chinês produzir maniçoba” (cultivada em Maragogipe onde, mais um anúncio de Lula, será instalada uma fábrica de fertilizantes).
A cerimônia foi coroada com o anúncio de uma (ou duas) benesse para a Santo Amaro de Caetano Veloso: a instalação de uma “faculdade Dona Canô” (mãe de Caetano e do meu colega de Coelba Rodrigo Veloso) e a recuperação do rio que corta a cidade.
O Bessias deve ter engolido, finalmente, o que tanto mastigava…
